O Suicida Quarentão
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quarta-feira, 4 de julho de 2018
Sobre como cheguei a isso
Antes de começar, quero dizer uma coisa: suicídio não resolve nada. Se você está precisando de ajuda, procure um amigo, um familiar em quem confia, procure atendimento especializado ou ligue para 188.
Quando o desespero aperta e parece que ninguém se importa conosco, sentimos vontade de tomar decisões extremas. Mas pense sempre nos que vão ficar, que vão sofrer e ficar se perguntando como não notaram que você estava mal.
Não posso dizer que superei isso... Hoje mesmo pensei seriamente em acabar com tudo. O que me impediu, por enquanto, foi a lembrança dos que vão ficar e que eu sei que ainda me amam.
Pense sempre nisso, pense neles.
Bom, desde pequeno, pensamentos suicidas eram uma constante pra mim. Não sei exatamente com quantos anos o primeiro pensamento "e se?" surgiu, também não sei se eram os filmes que eu assistia, ou os gibis de terror... A morte não era uma total desconhecida. Não que eu tenha perdido algum ente querido e próximo cedo, nada disso. Se você tem religião, podemos dizer que Deus me poupou disso. Mas, mesmo assim, a morte era um assunto recorrente nos encontros de família e, por incrível que pareça, até nas conversas de noite durante o jantar.
Me matar sempre foi algo em que pensei. Seja por conta de algum problema sério (ou que pareceu
sério na época e hoje vejo com o auxílio de uma lupa), seja por uma desilusão amorosa (e foram tantas)... O dia em que cheguei mais perto, pelo menos até agora, foi em 1994. Tive um problema sério e doloroso de saúde e já tinha planejado tudo... Por sorte minha mãe percebeu e conseguiu me ajudar: chamou um tio meu que eu amo e respeito muito, talvez a única pessoa da família em que confiaria em uma situação como aquela. Mas essa é uma história para outra postagem. Ainda estamos nos conhecendo.
Enfim, a solidão também sempre foi outra constante em minha vida. Até hoje, na verdade. Cresci, fui pra faculdade, fui pra pós, casei, tive filhos, me tornei servidor público... Nada disso me afastou da solidão.
E do auto-exílio.
Eu sempre me senti diferente... meio deslocado... Sempre um intruso ou um estrangeiro em um país desconhecido.
Houve um hiato, claro. Quando você casa, se acredita no que diz a Bíblia, você deixa de ser um e se torna um sendo dois... meio complicado, mas é isso aí. Mas a Bíblia não menciona que, mais cedo ou mais tarde, essa unificação acaba... ou os laços se desgastam. E, talvez não seja culpa de ninguém. Você só acorda um dia e não é mais a pessoa por quem sua esposa suspirava e insistiu para que casasse com ela. Se fode aí, trouxa.
Enfim, de volta ao começo. Sozinho, deslocado, exilado, deprimido e pensando em suicídio como nunca. Trabalho no Centro da Cidade do Rio de Janeiro, em um um prédio com 30 andares e escada de incêndio. Cenário fácil para um suicídio. Só chegar e pular.
São 12:22 e só vou sair lá pelas 17h. Tempo suficiente pra pensar que talvez uma última viagem de elevador e um salto expresso em direção ao solo vão resolver os meus problemas.
Mas não hoje. Vou tentar conversar com minha esposa hoje, ou tentar. Vamos ver se consigo resolver algumas coisas.
Tentei atendimento com algum psicólogo, mas...
— Senhor, pra ser atendido é necessário um encaminhamento.
— De quem?
— De um clínico geral. Ele vai definir a quantidade de atendimentos que o senhor necessita.
— É que o negócio é meio urgente — traduzindo: acho que vou me matar antes de conseguir marcar uma consulta com um clinico geral.
— Mas o procedimento é assim, senhor.
Agradeci, né? Fazer o quê? Aí tentei ligar pro SPA da UERJ. Primeiro deu ocupado durante boa parte da minhã. Depois chamou, chamou e ninguém atendeu. Que dificuldade!
Bom, vou esperar. Quem sabe essa conversa tem algum proveito e minha sensação de ser um merda diminui... Talvez sim, talvez não... 50% de probabilidades, né?
Vou ficando por aqui... Espero estar bem melhor do que hoje na próxima vez.
Fiquem bem e lembre-se:
Você não está sozinho!
Procure ajuda!
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